"Todos nós passamos por períodos de sequidão espiritual na oração, não é mesmo? Mas não estou muito certo de que isso seja, necessariamente, um mau sintoma. Algumas vezes penso que nossas melhores orações, as que nós consideramos melhores, na verdade, são as piores; e que aquela satisfação que temos nelas é a de um aparente sucesso, como de uma pessoa que declama bem um poema, ou executa bem um passo de balé. Nossas orações às vezes falham porque insistimos em falar com Deus, quando Ele está querendo falar conosco. Joy me contou que, certa vez, há alguns anos, ela passou amanhã toda com a sensação de que Deus queria falar-lhe alguma coisa; era uma sensação persistente, como o peso de um dever não cumprido. Até uma certa altura da manhã ela ficou pensando o que seria. Mas num dado momento decidiu não se preocupar mais, e foi nesse instante que recebeu a resposta, como se uma voz lhe falasse claramente. Era a seguinte: " Não quero que você faça nada. Quero dar-lhe uma coisa." Imediatamente seu coração se encheu de paz e alegria. Santo Agostinho diz que " Deus dá quando encontra mãos vazias," A pessoa que está com as mãos cheias de embrulhos talvez nem sempre sejam pecados ou interesses deste mundo, mas podem ser nossas tolas tentativas de adorar a Deus à nossa maneira. E a propósito, as coisas que mais me atrapalham, quando estou orando, não são os grandes problemas, mas pequeninas coisas- coisas que terei que fazer ou terei de evitar depois, mais tarde.( Uma carta de C. S. Lewis à uma amiga americana.)
C. S. Lewis