Tendo resolvido
que deveria descer em São paulo,
assim pensou e assim fez.
Não escolheu, no entanto,
o vale do Anhangabaú,
que é onde se realizam os grandes comícios
e as grandes concentrações,
não fez nenhuma propaganda no rádio, na televisão
e nos jornais.
Não viu nenhuma necessidade em preparar a campanha
de sua vinda com frases de " suspense ";
" Ele vem vindo ", " logo Ele vem ", " aguardem a sua vinda" .
Simplesmente, dispensou todos esses artifícios.
Não quis cores vermelhas ou amarelas ou lilases
nos disseminados cartazes, de "outdoor",
ficaria mal ao lado de anúncios de pneus,
de cigarros, de coca-cola.
Nem mesmo volantes em papel jornal amarelo e
cor-de-rosa aceitou.
E resolveu que viria só,
nada de secretários e grupos de preparação e equipe de
propaganda e pequenos coros de anjos de gravatas borboletas
e bandas de robustos e rubicundos comedores de massas-
veio só.
Veio com sua própria força,
sem se utilizar de luxuosos jatos executivos ou
de farfalhantes e nervosos helicópteros.
Não deu nenhuma volta espetaculosa no céu cinzento
de São Paulo,
não aceitou chuva de pétalas de rosas
nem papéis picados dourados e prateados,
holofotes e desfiles.
Desceu anonimamente
no bairro da Moóca
e foi conversar com uns operários metalúrgicos
que comentavam futebol e aumento de salário
à porta da fábrica, após o almoço.
( Será preciso esclarecer que Ele falava em nossa língua,
sem sotaque aramaico ?)
Os operários nem de leve o confundiram
com os camelôs da política, que fazem proselitismo
as véspera das eleições,
nem com os que vêm para semear a discórdia ou ódio.
Como os seus irmãos camponeses
dois mil anos atrás,
caíram de joelhos e ficaram maravilhados.
E reiniciaram, com aquele mesmo entusiasmo
do cristianismo primitivo,
o anúncio ao mundo, do Evangelho sempre novo.
Como no passado, antes de ir ao jardim Paulista ou ao
Jardim América ou ao Morumbi,
Cristo falou primeiro ao povo.
E, como lembrança paulista dessa visita de Jesus,
o povo que andava em trevas viu uma grande Luz.
Gióia Júnior
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