Na maior parte do tempo, Deus não se revela através de aparições diretas. (Entretanto, alguns comentaristas da Sagrada Escritura têm declarado que os três visitantes de Moisés em Gênesis 18 são uma revelação da Trindade.) Ao contrário, na Sagrada Escritura, Deus tipicamente revela aspectos da sua natureza através da acomodação de várias figuras de linguagem, incluindo analogias, comparações, metáforas e parábolas.
Para começar, Deus é com frequência descrito por metáforas e analogias extraídas da nossa experiência com objetos inanimados. Por exemplo, Deus é descrito como uma rocha, um escudo, uma trombeta da salvação e uma fortaleza (2 Samuel 22:3). Algumas destas imagens são muito poderosas e inspiradoras: pense no famoso hino de Martinho Lutero, "Nosso Deus é uma poderosa fortaleza". Além disso, Deus também é comparado aos animais, incluindo uma águia que cuida de seus filhos (Deuteronômio 32:11). Mas minha imagem não humana preferida de Deus se encontra no Salmo 18. Nessa passagem, o salmista está clamando para se libertar de seus opressores, quando de repente Deus aparece como um dragão cuspindo fogo, lançando-se sobre eles para trazer a libertação! !Das suas narinas subiu fumaça, e da sua boca saiu fogo devorador; dele saíram brasas ardentes. Ele abaixou os céus e desceu; trevas espessas havia debaixo de seus pés" (Salmo 18:8-9). Em minha opinião, esta pode ser a mais incrível descrição de Deus na Sagrada Escritura.
Em vez de funcionar de forma literal, esta linguagem é claramente antropomórfica (uma palavra que vem das palavras gregas para humano e forma), significando que descreve Deus como se Ele tivesse uma forma humana ou habilidades humanas. Considere mais uma vez a noção de espaço. Embora Deus exista em toda parte, é muito difícil pensar e se relacionar com um Deus que seja onipresente. Por isso, a Sagrada Escritura acomoda Deus à nossa experiência descrevendo-O como se tivesse um corpo físico. Assim, encontramos referências ao dedo de Deus (Êxodo 31:18), o rosto de Deus (2 Crônicas 30:9). Estes tipos de descrições não são simplesmente mais vivos ou naturais, mas podem na verdade ser muito poderosos. Por exemplo, quando Deus condena a rebelião de Israel, declara: "Esconderei, pois, totalmente o meu rosto naquele dia" (Deuteronômio 31:18). Esta é uma maneira poderosa de comunicar a desaprovação de Deus, mas não estaria disponível a nós se estivéssemos restritos a uma fala literal a respeito do Deus onipresente.
Na Sagrada Escritura frequentemente Deus contém o Seu conhecimento. (Não que Deus se torne ignorante, mas Ele não faz do Seu conhecimento parte da interação humana).
(Gênesis 22:12) Se interpretássemos isto literalmente, implicaria que Deus não saberia se Abraão iria ser-Lhe fiel até testá-lo. Mas não pode ser assim pois todos os dias da vida de Abraão foram escritos no livro antes de qualquer um deles ter sido vivido (Salmo 139:16). Se Deus conhece todos os eventos antes que eles ocorram, incluindo cada detalhe da vida de Abraão, então qual o propósito de testá-lo? O propósito não era que Deus iria saber que Abraão estava totalmente comprometido com Ele, mas sim o que Abraão aprenderia sobre sua própria fé e seria fortalecido por ela. Por isso, toda vez que Deus é descrito como aprendendo, a Sagrada Escritura está se acomodando a nós. O mesmo se aplica quando lemos sobre Deus recebendo um relato do pecado de Sodoma e Gomorra e resolvendo descer para ver se aquilo era realmente verdade (Gênesis 18:20-21). Deus certamente não ignora os eventos que ocorrem em diferentes localizações geográficas!
Deus desce ao nosso nível e interage conosco como se fosse um ser humano, e o faz para que possamos entrar em relacionamento com Ele.
Além de ser revelado em forma humana e com limitações humanas, Deus é também revelado em papéis humanos específicos. Por exemplo, Deus é descrito como um oleiro (Isaías 64:8), um pai (Deuteronômio 32:6), um guerreiro (Êxodo 15:3), um rei (Êxodo 15:18), um cantor (Sofonias 3:17), um marido (Isaías 54:5) e até mesmo como um soldado bêbado despertando do sono (Salmo 78:65)!
Como disse João Calvino: " Por que mesmo aqueles de escassa inteligência não entendem que, como fazem comumente as amas com os bebês, Deus está acostumado de certa forma a " sussurrar " quando fala conosco? Ou seja, assim como uma ama ou mãe se acomoda às limitações de um bebê utilizando uma conversa de bebê, também Deus se acomoda às nossas limitações descrevendo-se dentro da extensão da experiência humana, com frequência falando como se ele fosse humano.
Extraído
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